LIMITES NA EDUCAÇÃO INFANTIL[1]
A IMPORTÂNCIA DO LIMITE
Uma das maiores dificuldades na educação de uma criança consiste na tarefa de
saber dosar amor e permissividade com limite e autoridade.
Saber dizer “não” é, segundo especialistas, um dos aspectos mais importantes e
saudáveis da educação de crianças e adolescentes.
Claro que os pais se deparam com muitas dúvidas: Estou agindo certo? Por que
ele não me obedece?
Para os pais é importante saber que a noção do proibido vai se constituindo ao
longo do desenvolvimento infantil. No 1º ano de vida, a criança obedece ao
princípio do prazer, age por impulso. Por isso procura fazer apenas o que lhe
causa satisfação e foge o que é desprazeroso.
Até dois ou três anos, a noção do proibido não faz muito sentido à criança. É
preciso repetir muitas vezes o que pode ou não pode fazer, explicando em poucas
palavras a razão dessa proibição. Somente depois dos 3 ou 4 anos a criança
passa a compreender, cada vez melhor, as ordens dadas, começando a entender as
noções de bem e de mal. E, a princípio, ela procurará obedecer aos pais,
somente para satisfazê-los.
É fundamental que os adultos tenham clareza de suas convicções e sejam fiéis a
elas pois, para os pequenos, eles são modelos vivos a serem seguidos (lembram
do filmezinho que passei?). É por meio do convívio com essas fontes de
referências que eles vão estruturando sua própria personalidade.
A criança que não aprende a ter limite cresce com uma deformação na percepção
do outro. As consequências são muitas e, freqüentemente, bem graves, como por
exemplo, desinteresse pelos estudos, falta de concentração, dificuldade de
suportar frustrações, falta de persistência, desrespeito pelo outro – colegas,
irmãos, familiares e autoridades. Com frequência, essas crianças confundidas
com as que têm a síndrome de hiperatividade verdadeira, porque, de fato,
iniciam um processo que pode assemelhar-se a esse distúrbio neurológico. Na
verdade, muito provavelmente, trata-se da hiperatividade situacional pois, de
tanto fazer tudo, de tanto ampliar seu espaço sem aprender a reconhecer o outro
como ser humano, essa criança tende a desenvolver características de
irritabilidade, instabilidade emocional, redução de capacidade de concentração
e atenção, derivadas, como vimos, da falta de limite e da incapacidade
crescente de tolerar frustrações e contrariedades.
Houve um tempo em que a criança não tinha vez, querer ou escolhas, não
interrompia conversas de adultos e não era prioridade. Aquelas que quebravam
estas regras eram castigadas fisicamente pelos pais, hábito aceito pela
sociedade como normal e necessário.
Este tipo de relacionamento foi, no decorrer das últimas décadas, amplamente
modificado e as crianças passaram a ser reconhecidas como indivíduos que têm
vontade própria, direitos e necessidades específicas. O modo de educar os
filhos tornou-se muito menos autoritário.
Com toda transição originaram-se consequências tanto positivas, quanto
negativas.
Muita coisa melhorou, como o relacionamento entre pais e filhos que tornou-se
mais autêntico, democrático e harmonioso. Aprendeu-se a respeitar as crianças.
Por outro lado, muitos confundiram a necessidade de mais liberdade com total
falta de limites e surge, então, a geração de príncipes e princesas com mais
direitos do que deveres, mais liberdade que responsabilidade, mais receber que
dar.
É importante saber que quando não se dá limites a criança tende a ter
dificuldades que vão se desenvolvendo à medida que vai crescendo, surgindo
comportamentos como:
-
Descontrole emocional e ataques de raiva sempre que escuta um “não”;
-
Distúrbios de conduta, desrespeitando pais, colegas e autoridades,
excitabilidade, baixo rendimento porque aprendeu que fazer o que se quer é mais
agradável do que fazer o que se deve;
-
Agressividade física quando contrariado;
-
Descontrole, problemas psiquiátricos se houver predisposição, surgindo
problemas de ajuste social;
-
Forma distorcida de ver o mundo, podendo levar a marginalidade, ao álcool e às
drogas.
Mas através de
algumas regras básicas, bom senso, respeito e afeto, a missão de educar os
filhos pode ser gratificante.
A maioria dos comportamentos infantis
é aprendido por meio de imitação e da experimentação. As crianças aprendem a
comportar-se em sociedade ao conviver com outras pessoas, principalmente com os
próprios pais, absorvendo a conduta deles.
Cada vez que os
pais aceitam uma contrariedade, um desrespeito, uma quebra de limites, estão
fazendo com que seus filhos não compreendam e rompam o limite natural. Pais que
sofrem ao dizer “não”, são escravos do “sim”.
As crianças não se
tornam indisciplinadas da noite para o dia. São frutos de um longo processo
educativo.
A medida certa do
limite é: os pais delegarem aos filhos tarefas que eles já são capazes de
cumprir.
Os limites ensinam
a criança a ter comportamentos adequados, a se proteger contra situações de
risco e a respeitar os demais. Colocar limites é, portanto, um investimento.
Sem eles estaremos criando filhos difíceis, alunos problemáticos e adultos
desajustados socialmente.
Estabelecer limites
não precisa ser tão complicado. É claro que não existem receitas únicas, pois
as características familiares e individuais divergem de um contexto para outro
e são importantes para definir as escolhas e decisões. Mas algumas orientações
básicas são sempre úteis à maioria dos pais:
-
Agir de acordo com a idade da criança;
-
Iniciar o mais cedo possível;
-
Manter a coerência entre os pais e demais familiares;
-
Dar o exemplo (esta é com certeza a melhor forma de educar);
-
Estabelecer regras claras, definidas e estáveis;
-
Ser persistente;
-
Cumprir o que foi dito;
-
Criticar o ato cometido em si e não o indivíduo ou sua personalidade;
-
Não economizar elogios;
-
Lembrar que premiar não é dar coisas materiais, mas sim elogiar e demonstrar
afeto.
Não confundindo
autoridade com autoritarismo, exerça sua autoridade sem culpas, com segurança e
bom senso.
Não percam nossas
próximas conversas, voltaremos ao tema limites, abordando o desenvolvimento
normal de cada faixa etária.
[1] Material elaborado a partir da
palestra Limites na Educação Infantil da Psicóloga Raquel C. S. da Silva.
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